Estreia de impacto, resultado amargo
A noite era de expectativa no Vélodrome: recorde de investimento, novo projeto no banco e um brasileiro em ascensão. Igor Paixão enfim vestiu a camisa do Olympique de Marseille na Champions League, entrando na etapa final para mudar o ritmo do jogo. Só que, do outro lado, estava o Real Madrid — o teste mais duro possível para uma estreia europeia. O OM até tentou acelerar com o reforço em campo, mas saiu derrotado na abertura da fase de liga 2025/26.
O roteiro ajuda a entender a dimensão do desafio. Contratado por um valor informado em cerca de €35 milhões com bônus — cifra que crava o maior investimento do clube — o atacante brasileiro chegou para ser o cara do um contra um, da ruptura, do último passe. Aos 25 anos, chega com bagagem: foi eleito o melhor jogador do futebol holandês na temporada passada e voltou para a Champions em um palco onde já entregou desempenho sólido pelo Feyenoord.
Roberto De Zerbi esperou a segunda etapa para lançar o novo camisa do OM. A ideia era clara: colocar velocidade pelos lados, esticar o campo e testar a última linha do Real com diagonais curtas e infiltrações. Paixão se posicionou aberto, atacando os espaços atrás dos laterais e tentando receber com o corpo orientado para acelerar. Houve lampejos de química com o centroavante, movimentos coordenados para puxar marcação e criar brechas na meia-lua, e até faltas sofridas em zonas úteis. Faltou, porém, transformar iniciativas em finalizações limpas.
O Real, com o costume de esfriar ímpetos quando precisa e acelerar quando vê espaço, controlou os momentos decisivos. O Marseille foi corajoso, tentou pressionar alto em alguns trechos, mas pagou caro em algumas transições defensivas e bolas perdidas no corredor central. Contra adversários desse nível, pequenos detalhes viram grandes problemas.
Para Paixão, é um recomeço em alto nível, mas não exatamente uma novidade. No Feyenoord, ele disputou 17 jogos de Champions na temporada 2024/25, somando 2 gols e 5 assistências. Marcou o primeiro gol no torneio contra o Sparta Praga em dezembro de 2024, decidiu jogo contra o Milan no mata-mata de play-offs com um gol de oportunismo e ainda emendou um hat-trick em 6 a 2 sobre o Twente, em março de 2025, pela liga doméstica. Campeão da Eredivisie, da Copa e da Supercopa holandesa, saiu de Roterdã no auge.
A trajetória até aqui explica a aposta do Marseille. Revelado no Coritiba, com passagem por Londrina na base, o atacante ganhou corpo na Europa em tempo recorde. No Brasil, sempre foi visto como ponta de aceleração e drible curto; na Holanda, refinou leitura de jogo, pressão pós-perda e participação por dentro. Essa evolução o colocou numa lista preliminar de 52 nomes da Seleção em fevereiro de 2025 — um indício de que a vitrine europeia já enxerga seu teto técnico e físico.
O clube francês também fez a sua parte no mercado. Além do brasileiro, a diretoria se mexeu cedo e cravou a chegada de Pierre-Emerick Aubameyang, dois dias antes de oficializar Paixão. O recado ao vestiário foi direto: haverá profundidade, mobilidade e gol no terço final. Com essas peças, De Zerbi ganha combinações para alternar ataque posicional com transições rápidas, algo que faltou nos momentos em que o Real fechou o funil central.
Em campo, a estreia mostrou dois cenários. Primeiro, a equipe ainda procura sua melhor sincronia: saída de bola sob pressão, cobertura dos laterais e gestão das segundas bolas. Segundo, a capacidade de desequilibrar no mano a mano, justamente a função de Paixão, pode encurtar o caminho até o gol quando o rival baixa as linhas. Ele entrou, ameaçou, abriu corredor — isso apareceu. O que não veio, por enquanto, foi a jogada completa, com a última bola limpa para o chute.
Onde ele encaixa e o que muda para o Marseille
O encaixe tático é quase feito sob medida para o que De Zerbi costuma pedir a seus pontas: amplitude para alongar a defesa, inteligência para atacar o meio-espaço quando o lateral trava por fora e compromisso na pressão imediata após a perda. Paixão oferece profundidade, arranque em curta distância e mudança de direção que desmonta perseguições. Em jogos grandes, esse pacote não aparece o tempo todo — mas basta uma leitura certa para quebrar a linha.
Um detalhe pesa: a ligação com o centroavante. Com Aubameyang, o OM pode trabalhar duas rotações clássicas — o nove atacando o primeiro pau, enquanto Paixão fecha por dentro para a finalização, ou o inverso, com o ponta fixo na linha lateral para receber e cruzar no segundo pau. Nos lances em que o Real permitiu cruzamentos, faltou o timing da segunda trave e a bola rasteira para trás, jogada que o brasileiro executou muito bem no Feyenoord.
Na fase de liga da Champions, estreada no último ciclo, cada ponto tem peso maior do que se imagina à primeira vista. São confrontos contra rivais de diferentes potes num calendário curto, e a consistência conta mais do que uma grande exibição isolada. Perder para um gigante não desautoriza a ambição; só aumenta a urgência de pontuar nos próximos compromissos, especialmente em casa, com o Vélodrome cheio. O barulho do estádio costuma mudar o humor do jogo e empurrar a equipe nos 15 minutos finais.
Olhando para a tabela mental de prioridades, o Marseille precisa atacar três frentes ao mesmo tempo: ganhar minutos de entrosamento no ataque, reduzir erros na primeira fase de construção e ajustar a cobertura das costas dos laterais — este, aliás, um ponto que o Real explorou quando o OM subiu as linhas. Esses ajustes são treináveis e costumam aparecer com repetição de escalação e papéis bem definidos.
O investimento alto cria expectativa, claro. Mas o histórico recente de Paixão sugere adaptação rápida. Na Holanda, ele cresceu quando recebeu sequência. Na França, a exigência física é maior, os duelos são mais intensos, e a Champions não perdoa deslize técnico. Ainda assim, a combinação de idade, explosão e repertório indica margem para evoluir ao longo do semestre.
Se você olhar para o perfil do elenco, dá para listar o que o brasileiro agrega desde já:
- Velocidade de execução no terço final, útil para atacar defesas em bloco médio.
- Drible de curta distância para quebrar marcações individuais.
- Pressão coordenada no corredor e recuperação rápida após perda.
- Versatilidade: atua pelos dois lados e pode pisar por dentro em saídas de três.
Há também um efeito colateral positivo: com um ponteiro capaz de ganhar metros sozinho, o time não precisa forçar tantos passes por dentro contra linhas adensadas. Isso reduz o risco de transição adversária — justamente o que o Real adora explorar. Paixão, ao atrair dupla marcação, libera o meia da faixa central para receber entrelinhas, algo que o OM tentou no segundo tempo.
Do lado pessoal, o momento é simbólico. A estreia na Champions pelo Marseille fecha um ciclo que começou em Curitiba e passou por Roterdã. O passo seguinte é transformar presença em números: participações diretas em gols, decisões em jogos apertados, pontos que mudam a fotografia do grupo. Cada contribuição pesa num formato de liga em que vitórias apertadas valem tanto quanto goleadas.
No plano de seleção, a vitrine francesa e a Champions contam a favor. Estar numa lista preliminar de 52 nomes, como ocorreu em fevereiro de 2025, não garante convocação — mas mostra que ele está no radar. Regularidade e impacto nos jogos grandes são o atalho mais curto para manter o nome em discussão.
Para o torcedor, fica a mistura de frustração pelo resultado e curiosidade com o que vem aí. A primeira amostra de Paixão sugere que ele pode acelerar partidas fechadas e mudar o ritmo quando o adversário baixa a guarda. Com treinos, minutos e ajustes finos, a tendência é que o timing das jogadas apareça com naturalidade.
O Real Madrid deu o recado de sempre: experiência pesa. O Marseille, por sua vez, mostrou que tem peça para competir melhor do que competiu em alguns trechos do jogo. A margem para evolução existe, e o calendário imediato traz oportunidades para transformar desempenho em pontos. Para Igor, a missão está traçada: ser decisivo sem perder a fome de correr, pressionar e incomodar. A Champions não espera ninguém — e a temporada dele, no OM, começou agora.
Thiago Teixeira
setembro 19, 2025 AT 11:56Igor teve um primeiro tempo difícil, mas vi algumas coisas boas. A velocidade dele no espaço entre os zagueiros foi o único ponto de luz no ataque do Marseille. Se o time aprender a ligar melhor com Aubameyang, pode virar um pesadelo pra defesa adversária.
Gustavo Quiroz
setembro 20, 2025 AT 08:04o marseille ta perdendo de novo pq contratou um brasileiro q nao sabe jogar futebol. eu ja vi melhor no campeonato brasileiro de serie b. e ainda falam q é investimento alto... kkkkkk
Andressa Nunes
setembro 22, 2025 AT 04:39Se o cara é tão bom assim, por que tá sendo usado só no segundo tempo? O De Zerbi tá com medo de botar ele no começo? Isso é tática ou insegurança? O Real não é o único time que sabe jogar bola, mas o Marseille tá agindo como se tivesse medo de ganhar.
Mateus De Araújo Beker
setembro 22, 2025 AT 20:42Brasileiro entra, perde, e ainda tem que ouvir esses otários falando que ele não vale nada. O cara foi o melhor da Holanda, fez hat-trick no Twente, e agora tá num time que tá tentando ser relevante de novo. O Real é um time de outro planeta, mas o Igor já deu mais que a maioria dos franceses no campo. Vão ficar reclamando até ele fazer um gol de bicicleta no meio da quadra?
Leila Bittern
setembro 24, 2025 AT 18:17eu só queria que alguém dissesse que o Igor tá sozinho lá. ele tá tentando, mas parece que ninguém sabe pra onde passar a bola. eu chorei quando ele foi derrubado. não é só futebol, é coração.
Serrana Filetti
setembro 25, 2025 AT 18:08Estou acompanhando com muito carinho a evolução do Igor Paixão. Sua transição da Eredivisie para a Champions League é um processo complexo, exigindo adaptação tática, física e psicológica. O fato de ele já ter demonstrado capacidade de decisão em jogos de alto nível, como contra o Milan e o Sparta Praga, indica que a maturidade técnica está presente. Ainda é cedo para julgar sua eficácia em um contexto tão exigente quanto o da Champions. O Marseille precisa oferecer mais consistência na construção e cobertura defensiva para que ele possa se expressar plenamente. A paciência, o suporte técnico e a confiança contínua são fundamentais neste momento de transição. Ainda há muito caminho a percorrer, mas o potencial é indiscutível.
osvaldo eslava
setembro 26, 2025 AT 14:00É claro que o Real Madrid venceu. É o Real Madrid. Mas o que me intriga não é o resultado - é a poesia do fracasso. Igor, como um Rimbaud na grama do Vélodrome, tentou transformar o futebol em arte, mas a máquina alemã do tempo e da história o esmagou com sua eterna superioridade. Ele não perdeu por incompetência, mas por ser um sonhador em um mundo que só valoriza resultados. O gol que não veio? Era uma ode. A assistência que não aconteceu? Um verso inédito de um poema que ninguém ainda sabe ler. O Marseille não perdeu. A França perdeu a chance de ter um herói moderno.
Gabriel Pereira
setembro 27, 2025 AT 14:04Se o Igor fosse brasileiro de verdade, ele já tinha feito 3 gols nesse jogo. Esse negócio de jogar com cabeça é só desculpa de quem não tem perna. O cara é um fraco. Tá no Marseille porque ninguém mais queria. E ainda falam que é investimento? É desperdício de dinheiro com um jogador que não tem raça.