
Quando Daniel Hagari, porta‑voz das Forças de Defesa de Israel FDI comunicou, às 7h00 (UTC+2) de 10 de outubro de 2025, que o cessar-fogo havia sido ativado em toda a Faixa de Gaza, o mundo sentiu um suspiro coletivo. O anúncio saiu do quartel‑general militar Kirya, em Tel Aviv, e foi precedido pela libertação, ainda no dia anterior, dos últimos 20 reféns israelenses mantidos pelo Hamas. Essa trégua encerra quase dois anos de confronto que começou com o ataque de 7 de outubro de 2023.
Contexto histórico do conflito
O embate entre Israel e o Hamas tem raízes que remontam a décadas, mas o ponto de ruptura em 2023 marcou o início da operação militar mais extensa das Forças de Defesa de Israel desde a Guerra dos Seis Dias. Desde então, as autoridades israelenses registraram 1.195 mortos, entre civis e militares, enquanto o Escritório de Mídia do Governo de Gaza aponta 67.345 palestinos mortos, entre eles 14.500 crianças. Entre os desaparecidos, ainda são 10.200 pessoas sob os escombros das áreas devastadas.
Detalhes do cessar-fogo e das trocas de prisioneiros
O acordo, negociado em três fases, foi brotado na mesa de negociação dos EUA, Catar e Turquia. Antony J. Blinken, Secretário de Estado dos Estados Unidos, e Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, Primeiro‑Ministro do Catar, lideraram a mediação, enquanto Hakan Fidan, Ministro das Relações Exteriores da Turquia, atuou como co‑facilitador.
A Fase Três, concluída em 9 de outubro, exigiu que o Hamas entregasse os 20 reféns restantes – soldados com idades entre 22 e 35 anos – em troca da libertação, por Israel, de 600 prisioneiros palestinos, em sua maioria mulheres e menores. O Diretor do Serviço Prisional Israelense, Yitzhak Pundak, confirmou a transferência na manhã do dia 9.
O acordo estabelece um período inicial de 42 dias para monitoramento, com possibilidade de extensão caso ambas as partes cumpram as condições de cessar-fogo e liberação de detidos.
Reações internacionais e papel da ONU
Logo após o anúncio, o Secretário‑Geral da ONU, António Guterres, dirigiu‑se ao Conselho de Segurança por videoconferência, ressaltando que "os povos de Gaza e de Israel começam a vislumbrar a frágil esperança de calma após meses de destruição". Guterres enfatizou que a trégua deve evoluir para um processo político que conduza a dois Estados independentes, com fronteiras baseadas nas linhas pré‑1967.
O Comitê Conjunto de Monitoramento – composto pelo Diretor da CIA, William J. Burns, o Assessor de Segurança Nacional do Catar, Mubarak bin Ali Al‑Khater, e o Diretor do MIT turco, Ibrahim Kalın – planeja reunir‑se em Cairo, em 20 de outubro, para avaliar a implementação e propor ajustes.

Situação humanitária em Gaza
Os números falam alto: entre 10 e 12 de outubro, cerca de 309.850 residentes deslocaram‑se do sul para o norte da Faixa, enquanto 22.750 movimentos ocorreram em outras direções, à medida que famílias retornavam a bairros quase totalmente reduzidos a ruínas. O Diretor de Operações da UNRWA em Gaza, Thomas White, descreveu a situação como "destruição generalizada de prédios residenciais", com apenas 12 % das habitações ainda habitáveis.
O plano de emergência de 60 dias coordenado pela Coordenadora Humanitária, Jamie McGoldrick, prevê a entrega diária de 600 caminhões, totalizando 18.000 toneladas de alimentos, 500.000 litros de água potável e 200.000 kits médicos para atender a 2.283.700 residentes.
Desafios futuros e plano de reconstrução
Embora o cessar-fogo tenha trazido alívio imediato, ainda há questões críticas: o desarmamento total do Hamas permanece indefinido, e a retirada final das forças israelenses ainda não foi acordada. O Banco Mundial, em sua "Avaliação das Necessidades de Reconstrução de Gaza" (5 de outubro 2025), estima que serão necessários US$ 18,7 bilhões apenas para reconstruir moradias, mais US$ 4,2 bilhões para infraestrutura e US$ 2,1 bilhões para serviços de saúde nos próximos três anos.
Especialistas apontam que, sem um acordo de segurança robusto, a reconstrução pode ser ameaçada por novos surtos de violência. O analista de segurança regional, Ariel Ben‑David, alerta que "a estabilidade duradoura depende tanto da capacidade de monitoramento internacional quanto da vontade política das lideranças locais".

Perspectivas de paz e próximos passos
Com a trégua em vigor, a agenda internacional volta seu foco para a consolidação de um processo de paz que vá além da simples cessação das hostilidades. A comunidade diplomática espera que o próximo encontro em Cairo sirva de alavanca para abrir caminho a negociações sobre questões territoriais, segurança e direitos humanos. Para a população de Gaza, porém, o desafio imediato é sobreviver à fase de pós‑conflito, reconstruir lares e retomar uma vida que, até pouco tempo, parecia impossível.
Perguntas Frequentes
Como o cessar-fogo afeta os refugiados palestinos?
A trégua permite a passagem de ajuda humanitária e a mobilidade de cerca de 310 mil deslocados que ainda buscam abrigo no norte. Contudo, o retorno ainda enfrenta infraestrutura destruída e a falta de moradias seguras.
Quais são os termos principais do acordo de troca de prisioneiros?
O pacto prevê três fases, cada uma com proporção de 30 prisioneiros palestinos (principalmente mulheres e menores) por cada prisioneiro israelense libertado. A fase final resultou na libertação dos últimos 20 reféns israelenses em troca de 600 detidos palestinos.
Qual o papel dos Estados Unidos nesse processo?
Os EUA, liderados por Antony J. Blinken, foram os principais mediadores, facilitando as negociações entre Israel, Hamas, Catar e Turquia, além de garantir garantias de segurança para as trocas de prisioneiros.
Quanto dinheiro será necessário para a reconstrução de Gaza?
Segundo o Banco Mundial, são estimados US$ 18,7 bilhões para moradias, US$ 4,2 bilhões para infraestrutura (energia, água, saneamento) e US$ 2,1 bilhões para o setor de saúde nos próximos 36 meses.
Quando será a próxima reunião do Comitê de Monitoramento?
A comissão, composta pelos representantes dos EUA (CIA), Catar e Turquia, tem encontro marcado em Cairo para o dia 20 de outubro de 2025, onde avaliará o cumprimento da trégua e discutirá possíveis ajustes.