O empate em 0-0 entre México e Uruguai no Estádio Corona, em Torreón, no dia 15 de novembro de 2025, foi mais do que um jogo de preparação para a Copa do Mundo de 2026. Foi um espelho da tensão que vem moldando as duas seleções rumo ao torneio. O jogo, disputado sob um céu nublado e com público de cerca de 42 mil pessoas, terminou com dois lances de penalidade não assinalados — um sobre Germán Berterame e outro sobre Maximiliano Araújo — que deixaram os jogadores uruguaios furiosos e os torcedores mexicanos em silêncio. Afinal, quando o apito final soou aos 90+5 minutos, o que sobrou foi frustração, não celebração.

Primeira parte dominada, segunda parte equilibrada — mas sem gols

A primeira metade foi claramente a do México. Com Hirving Lozano cortando pelas laterais e Raúl Jiménez ocupando o espaço entre os zagueiros, os anfitriões geraram quatro remates contra apenas um do Uruguai. O meio-campo mexicano, com Edson Álvarez e Israel Reyes como pilares, controlou a posse de bola com precisão. Já o Uruguai, sob o comando de Marcelo Alberto Bielsa, parecia mais reativo, quase esperando o erro adversário. Nada surpreendente: Bielsa já disse em entrevista que seu time "jogou abaixo do que pensei que poderíamos produzir". E o fato de o México ter tido mais chances, mais passes completos e mais posse de bola não mudou o resultado — apenas reforçou a sensação de que o empate foi justo, mas decepcionante.

Polêmica nos minutos finais: duas penalidades ignoradas

Aqui está o coração da controvérsia. Nos últimos 10 minutos, Germán Berterame caiu na área após contato com o zagueiro César Montes. O árbitro, o colombiano Jerson González, não deu nada. Pouco depois, Maximiliano Araújo, que havia entrado aos 74 minutos, foi derrubado por Johan Vásquez dentro da área. Nada. O ala do Sporting Clube de Portugal reagiu com raiva — e foi pego pelo adversário no chão, quase em um duelo físico. A cena foi repetida em redes sociais milhares de vezes. "Foi um pênalti claro. Não apenas um, mas dois", disse o técnico uruguaio após o jogo. "Eles não mereciam vencer, mas nós também não merecíamos perder. A arbitragem não ajudou ninguém."

As estatísticas não mentem — mas também não contam toda a história

Segundo dados da ESPN, o México teve 14 chutes ao gol contra 7 do Uruguai, 58% de posse de bola e 512 passes completos contra 387. Mas no futebol, esses números não garantem vitória. O guarda-redes uruguaio Santiago Mele fez duas defesas essenciais — uma no final, contra uma cabeça de Johan Vásquez — e salvou o empate. Já o goleiro mexicano Raúl Rangel precisou de uma defesa espetacular para evitar o gol de Facundo Torres, que entrou aos 66 minutos e quase decidiu o jogo com um cruzado de esquerda. O futebol, às vezes, é assim: quem cria mais, não sempre vence. Mas quem não aproveita, sempre sofre.

Bielsa e Aguirre: dois treinadores, duas visões

Marcelo Bielsa, o lendário "Loco" argentino que comanda o Uruguai desde 2023, não escondeu sua decepção. "A primeira parte foi do México. A segunda foi mais equilibrada — mas não nossa. As duas equipes tiveram poucas oportunidades, mas o México criou mais perigo." Já o técnico mexicano, identificado como Jaime Aguirre, foi mais pragmático: "Não conseguimos vencer. Também não merecíamos perder. Vivi um jogo intenso e equilibrado. As estatísticas são só números. O que importa é o empate."

Essa diferença de tom revela algo profundo: enquanto o México busca segurança e controle, o Uruguai ainda tenta encontrar identidade sob o estilo caótico e intenso de Bielsa. Desde 2023, a seleção uruguaia já teve 32 jogos — e 12 deles terminaram em empate. É um recorde que não é de orgulho, mas de preocupação. O time tem talento — Nahitan Nández, Rodrigo Aguirre, Brian Rodríguez — mas falta finalização. E confiança.

O que vem a seguir: dois jogos cruciais em 19 de novembro

Os próximos compromissos serão decisivos. O Uruguai viaja para Tampa, enfrentando os Estados Unidos no Raymond James Stadium na terça-feira, 19 de novembro, às 21h (horário de Brasília). Já o México joga no mesmo dia, mas em San Antonio, contra o Paraguai, às 22h30, no Alamodome. Ambos precisam de vitórias. O Uruguai, para recuperar confiança. O México, para mostrar que é favorito no Grupo A da Copa.

Maximiliano Araújo: entre a seleção e o clube

E não se esqueça de Maximiliano Araújo. O ala do Sporting Clube de Portugal está suspenso para o próximo jogo do clube — contra o Marinhense, pelas oitavas da Taça de Portugal, em 22 de novembro. A expulsão nos Açores, por uma entrada violenta, já o deixou fora da próxima rodada. E agora, com a polêmica no México, sua imagem sofreu mais um golpe. Será que ele consegue se reencontrar entre a pressão da seleção e a exigência do clube? O futebol não perdoa erros — nem na arbitragem, nem nos jogadores.