Trump impõe tarifaço de até 50% ao Brasil; México e Colômbia sob pressão

Quando Donald John Trump, ex‑presidente dos Estados Unidos anunciou, em 2 de fevereiro de 2025, o que ele chamou de “Dia de Libertação”, o mundo comercial sentiu o choque: um tarifaço global que colocaria impostos mínimos de 10% sobre produtos de dezenas de países, entre eles o Brasil. Na carta de 9 de julho, enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump elevou a taxa para 50% e ainda fez críticas à condução de processos contra o ex‑presidente Jair Bolsonaro, à atuação do Supremo Tribunal Federal e à política de mídias sociais americana. O objetivo declarado? corrigir o déficit comercial de US$ 1,2 trilhão que os EUA acumulam com o resto do mundo.

Contexto: a lógica da reciprocidade e o piso de 10%

A Casa Branca explicou que a medida segue a regra da reciprocidade: se um país impõe, em média, 20% de impostos sobre bens americanos, os EUA aplicariam metade desse percentual, mas nunca menos que 10%. Por exemplo, o Japão cobra 46% em média; assim, os EUA passariam a taxar produtos japoneses em 24%. No caso brasileiro, a média declarada era de 10%, o que justificaria uma taxa de 5%, porém o piso de 10% foi mantido.

Reações em América Latina: Brasil, Colômbia e México

O Brasil recebeu a primeira notificação em abril de 2025, com a taxa inicial de 10%. A escalada para 50% veio como surpresa e gerou protestos de setores agrícola e industrial, que temiam aumento de custos de exportação para o maior mercado consumidor do planeta.

Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro inicialmente rejeitou a proposta de tarifas de até 50% ao declarar, em maio de 2023, "não aperto a mão de escravizadores brancos". Contudo, poucos dias depois, o governo recuou e permitiu o retorno de voos com imigrantes deportados, mostrando a eficácia da pressão americana.

O México recebeu uma ameaça de 25% de tarifas. A presidente Claudia Sheinbaum Pardo conseguiu suspender temporariamente a medida ao prometer enviar 10 mil soldados da Guarda Nacional para a fronteira e cooperar no combate ao tráfico de drogas e migração irregular. Em março de 2025, Trump escreveu na Truth Social que "fiz essa acomodação em respeito à presidente Sheinbaum", sinalizando que a negociação evitou o golpe tarifário imediato.

O caso do Canadá e a reação do USMCA

Embora o Justin Trudeau, primeiro‑ministro canadense, tenha sido alvo de críticas recorrentes, o Canadá escapou da lista de países com tarifas anunciadas. Ainda assim, Trudeau denunciou o plano como "injustificado" e sugeriu que Trump poderia estar usando as tarifas como ferramenta para pressionar a anexação do território canadense. Ambos México e Canadá alegaram violação do USMCA, acordo de livre comércio ratificado em 2020, argumentando que as tarifas contrariam as cláusulas de tratamento nacional.

Análise de especialistas: estratégia de "escalar para depois desescalar"

Análise de especialistas: estratégia de "escalar para depois desescalar"

A doutora em Relações Internacionais Carolina Pavese, da London School of Economics, descreve a tática de Trump como um "jogo de pressão": anunciar tarifas altas para forçar concessões, depois recuar parcialmente para ganhar capital político. "Foi assim com todos os países, inclusive com aqueles que fecharam algum tipo de acordo. Mesmo nos casos em que a tarifa foi adiada, as condições bilaterais ficaram piores que antes da política de Trump", afirmou Pavese.

Economistas de bancos internacionais alertam que, se as tarifas vigorem, os custos de insumos importados subirão entre 8% e 12% nos três países do USMCA, repercutindo em preços ao consumidor nos EUA, Canadá e México. Cadeias de suprimentos de automóveis, eletrônicos e alimentos já mostram sinais de retração, com empresas renegociando contratos e buscando fornecedores alternativos.

Impactos esperados no consumidor e no comércio regional

  • Produtos agrícolas brasileiros – como carne bovina e soja – podem ter aumento de até 20% nos preços nos supermercados americanos.
  • Indústria automobilística mexicana enfrentará custos adicionais de componentes importados da China, elevando o preço final dos veículos em cerca de 5%.
  • Consumidores canadenses podem ver a tarifa de 15% sobre bens eletrônicos dos EUA traduzir‑se em um aumento médio de 9 dólares por dispositivo.
  • As pequenas e médias empresas da América Latina, que dependem de exportações para o mercado norte‑americano, podem ter uma queda de 3% a 7% nas receitas anuais.
Próximos passos: negociações e possíveis ajustes

Próximos passos: negociações e possíveis ajustes

Até o fim de 2025, a Casa Branca ainda não definiu se manterá o piso de 10% ou ajustará a alíquota com base em novos acordos bilaterais. O Departamento de Comércio dos EUA indicou que revisará os pedidos de isenção a cada trimestre, o que abre margem para mais renegociações.

Enquanto isso, o Brasil aguarda a resposta do Ministério das Relações Exteriores, que prometeu levar a questão ao Grupo de Oito e buscar apoio da Organização Mundial do Comércio. O México, por sua vez, reforça a presença de guardas na fronteira e intensifica o diálogo com Washington sobre migração.

Perguntas Frequentes

Como as tarifas afetam o consumidor brasileiro?

Com a taxa de 50% sobre produtos exportados para os EUA, bebidas alcoólicas, carne bovina e soja podem ter aumento de preço entre 15% e 25% nos mercados americanos, o que, por consequência, pressiona os custos internos de produção e pode elevar o preço desses alimentos nas prateleiras do Brasil.

O que motivou Trump a lançar o "tarifaço"?

A administração de Trump apontou o déficit comercial de US$ 1,2 trilhão como a principal razão, alegando que a reciprocidade tarifária forçaria parceiros a reduzir suas próprias barreiras e equilibraria o fluxo de comércio internacional.

A medida viola o acordo USMCA?

Especialistas afirmam que a imposição unilateral de tarifas acima de 10% contraria a cláusula de tratamento nacional do USMCA, que proíbe discriminação tarifária entre os signatários. México e Canadá já registraram que irão recorrer às instâncias do acordo.

Quais são os próximos cenários possíveis?

Se as negociações continuarem, os EUA podem reduzir o piso para 5% mediante concessões sobre imigração. Caso contrário, a taxa de 10% permanecerá, elevando custos de importação para todos os países afetados e potencialmente incentivando a criação de blocos comerciais regionais alternativos.