Presidente da Alerj e ex-deputado TH Joias presos em operação contra facções e corrupção no Rio

A corrupção política no Rio de Janeiro atingiu níveis inéditos com a prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, e o indiciamento do ex-deputado Thiego Raimundo de Oliveira Santos, o TH Joias, em uma operação que expôs uma rede de proteção entre políticos e facções criminosas. A Polícia Federal (PF) descobriu que Bacellar teria recebido informações sigilosas sobre operações policiais — e as repassado — para proteger as atividades de TH Joias, que atuava como braço político do Comando Vermelho e do Terceiro Comando Puro dentro da Assembleia. O caso, revelado em novembro de 2025 e desdobrado em dezembro, não é só um escândalo: é um retrato de como o crime organizado se infiltrou no coração do poder estadual.

De joalheiro a facilitador do crime

Antes de entrar na política, TH Joias era um joalheiro de sucesso, fabricando peças de ouro cravejadas de diamantes para jogadores de futebol e artistas. Mas sua ascensão política não foi por mérito — foi por conexão. Ele usou o cargo de deputado estadual para criar um canal direto entre a Alerj e os líderes do tráfico. A PF descobriu que ele negociava armas, adquiria equipamentos antidrones e lavava dinheiro para o CV e o TCP. Em um dos relatórios, a PF chamou sua atuação de "facção vestida de terno". Ele não era apenas um político corrupto: era um operador logístico do crime dentro das paredes do poder.

A ligação perigosa com o presidente da Alerj

A relação entre TH Joias e Rodrigo Bacellar foi mais do que amizade política. Era um pacto de sobrevivência. Segundo depoimentos colhidos pela PF, Bacellar recebeu mensagens diretas do ex-deputado perguntando: "Você está sabendo de alguma coisa de operação amanhã pra mim?". A resposta foi negativa — mas o que aconteceu depois foi o que realmente importou. No dia seguinte, TH Joias enviou a Bacellar fotos e vídeos de agentes da PF invadindo sua casa. "O cara é maluco, o cara me manda um vídeo, uma foto dos policiais lá na casa dele", disse Bacellar, segundo o relatório. Essa troca de informações foi o fio que desenhou toda a teia. O presidente da Alerj, que deveria proteger o sigilo das investigações, acabou se tornando um informante involuntário — ou talvez, consciente.

Operação Zargun e a prisão do delegado

A operação que desmontou a rede começou com a prisão em flagrante do delegado da PF Gustavo Steel, durante o plantão no Aeroporto Internacional do Rio. Ele foi pego com documentos confidenciais que deveriam ter sido mantidos em sigilo. O que ele fazia? Passava dados sobre operações em andamento para criminosos — e, segundo a PF, muitos desses dados chegavam a TH Joias. O caso de Steel não foi isolado. Ele era parte de um sistema mais amplo: policiais, servidores públicos e até secretários municipais estavam envolvidos. Alessandro Pitombeira Carracena, ex-secretário da prefeitura e do governo estadual, também foi indiciado. A PF encontrou 18 pessoas ligadas a essa rede, incluindo militares e um delegado federal. A corrupção não era um caso de um "bombo" — era um sistema.

Prisão em cadeia: de setembro a dezembro

Prisão em cadeia: de setembro a dezembro

TH Joias foi preso pela primeira vez em 5 de outubro de 2025, durante uma operação conjunta da PF e da Polícia Civil que prendeu 15 pessoas. Na época, a operação visava chefes do tráfico, mas os agentes notaram algo estranho: um político circulando entre os bandidos, com acesso a informações que nenhum parlamentar comum teria. Ele foi solto temporariamente, mas as investigações continuaram. Em setembro, ele foi preso novamente — e desta vez, sem chance de liberdade. A PF passou a rastrear suas comunicações com Bacellar, e o que encontrou foi chocante: mensagens em tempo real sobre movimentos da polícia, planos de buscas, até detalhes sobre testemunhas. O presidente da Alerj, que jurou não saber de nada, foi preso em 7 de dezembro de 2025, por ordem do ministro Alexandre de Moraes do STF. Foi a primeira vez na história da Alerj que um presidente foi preso por obstrução de justiça — e ele se tornou o quinto da história da casa a ser detido.

O que vem a seguir?

Na segunda-feira, 8 de dezembro de 2025, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj se reuniu para decidir se a prisão preventiva de Bacellar seria mantida. A defesa dele alega que não houve provas concretas de vazamento, apenas "suposições baseadas em mensagens ambíguas". Mas a PF tem gravações, vídeos, relatórios de interceptações e testemunhas. O que está em jogo não é apenas a liberdade de um político — é a credibilidade da própria Assembleia. Se a CCJ decidir manter a prisão, Bacellar será afastado permanentemente. Se for liberado, o episódio se tornará um precedente perigoso: a mensagem será de que até o presidente da Alerj pode ser protegido por conexões criminosas.

As sombras que persistem

As sombras que persistem

O caso TH Joias e Bacellar não é um fim — é um início. A PF ainda não investigou todos os contatos do ex-deputado com outros parlamentares. Há indícios de que outras figuras da Alerj receberam informações similares. E o que acontece com os contratos públicos que TH Joias influenciou? Quem assinou acordos com empresas ligadas a ele? A Justiça ainda não respondeu. Mas o que já ficou claro é que, no Rio, o crime organizado não precisa mais de armas para dominar: basta um terno, um cargo e um telefone.

Frequently Asked Questions

Como TH Joias conseguiu se manter na Alerj mesmo envolvido com facções criminosas?

TH Joias usava sua imagem de empresário bem-sucedido e sua rede de contatos com artistas e atletas para criar uma fachada de legitimidade. Ele doava joias para campanhas, financiava eventos da Alerj e mantinha uma postura discreta, evitando confrontos diretos. Mas por trás disso, operava como intermediário entre o tráfico e políticos, garantindo proteção e informações em troca de favores. A PF descobriu que ele tinha acesso a planos de operações antes mesmo dos próprios agentes.

Por que o ministro Alexandre de Moraes autorizou a prisão de Rodrigo Bacellar?

Moraes considerou que havia risco concreto de obstrução da justiça, fuga e continuidade do crime. As mensagens entre Bacellar e TH Joias demonstravam conhecimento antecipado de operações policiais, o que configurava crime de embaraço à investigação. Além disso, como presidente da Alerj, Bacellar tinha poder de influenciar processos legislativos e proteger aliados. A prisão foi medida preventiva para evitar que ele destruísse provas ou intimidasse testemunhas.

Quais são os próximos passos da investigação?

A PF está analisando mais de 12 mil mensagens e 400 horas de gravações. O foco agora é identificar outros deputados que tiveram contato com TH Joias ou receberam informações sigilosas. Também estão sendo investigados contratos públicos assinados durante seu mandato, especialmente aqueles ligados a empresas de segurança e telecomunicações. A Justiça pode abrir processos contra até 10 novos nomes nos próximos meses.

O que isso significa para a política no Rio de Janeiro?

O caso expõe uma realidade sombria: o poder político no Rio está profundamente entrelaçado com o crime organizado. A Alerj, que deveria fiscalizar o governo, passou a ser um espaço de proteção para facções. A prisão de Bacellar é um sinal de que a Justiça está começando a agir — mas também mostra que o sistema está mais corrompido do que se imaginava. A população perdeu a confiança, e só eleições com transparência total podem restaurá-la.

TH Joias já foi condenado? Qual é o risco de pena para ele e Bacellar?

Ainda não há condenação, mas os indiciamentos incluem crimes com penas de até 30 anos. TH Joias pode enfrentar até 25 anos por organização criminosa e lavagem de dinheiro. Bacellar, por embaraço à investigação e violação de sigilo funcional, pode pegar até 12 anos. Se provado que ele agiu intencionalmente para proteger o tráfico, a pena pode ser aumentada. Ambos ainda têm direito a defesa, mas a evidência digital é avassaladora.

Há precedentes de presidentes da Alerj presos por corrupção?

Sim. Antes de Bacellar, quatro presidentes da Alerj já foram presos: em 1994, 2005, 2013 e 2017 — todos por desvios de recursos públicos ou corrupção passiva. Mas nenhum foi preso por colaboração direta com facções criminosas. Este é o primeiro caso em que um presidente da casa é acusado de servir como ponte entre o crime organizado e o poder legislativo — tornando-o um marco histórico na luta contra a impunidade no estado.